sábado, 24 de agosto de 2013

Andanças

ANDANÇAS


Percorrendo a cidade grande
Me sinto um cusco sem dono
Nesses dias de outono
Quando o campo fica mais bonito
Me sinto ainda mais aflito
Por não estar lá para apreciar
A natureza que vem nos brindar
Com um por-do-sol multicores
E o aroma das flores
Próximas do despetalar

Em cada rua que cruzo
Em cada calçada que piso
Busco nas pessoas um sorriso
Mas é difícil de encontrar
Cada um com seu pensar
Distante da realidade
Vão enchendo a cidade
E esvaziando o coração
E um simples gesto de educação
Se torna uma raridade

É aí que eu lembro do campo
Na nossa tênue ignorância rural
Que da cidade tem uma distância abismal
Quando se trata de convivência e relação
Pois desde um simples aperto de mão
Passando por um buenas e um quebra-costela
Nenhum vivente tem preguiça na goela
Pra cumprimentar um passante
Que mesmo de casa estando distante
Assim se sente mais perto dela

Nestas minhas caminhadas
Tenho encontrado de tudo
E me acho um cara sortudo
Por poder vivenciar esses dias
São ruas, botecos, livrarias
Lugares novos e desconhecidos
Que se somam aos meus cerzidos
Alinhavando a cidade grande
E meu conhecimento se expande
Como num livro, recém lido

Mas, nos momentos de pausa
Em que posso contemplar na minúcia
E usando um pouco de astúcia
Comparo o que vejo com o campo
E encontro no horizonte o acalanto
O silêncio, contemplando a grama
As árvores, suas folhas e ramas
Detalhes, às vezes, não vistos
Pelos horários, atrasos e imprevistos
Mas que atraem a quem a natureza ama

Por isso, nestas minhas andanças
Nunca deixo de apreciar
Nos momentos em que o compromisso deixar
A beleza das coisas da vida
A natureza assim concebida
Ali, à mostra, pra toda humanidade
Mas que aqui na grande cidade
Muitos nem notam que existe
E o que é ainda mais triste
Ignoram tão bela é a simplicidade.


Leandro da Silva Melo

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Vinte anos...

VINTE ANOS...



Contive a vertente do choro
Pra não transbordar a cacimba da alma
Mantive ao máximo a calma
Respirei e baldeei o pensamento
Mas juro, que por um momento
Quase perdi a ilusão
E seria grande a decepção
De ter lutado tão bravamente
E ter sobrado somente
Cicatrizes no meu coração

Revendo hoje o passado
Me enxerguei lá no início
Aprendendo um novo ofício
Sonhando com belos dias
Transformando as utopias
De minha realidade severa
Deixando pra trás uma era
De sofrimento e incerteza
Encontrando uma luz acesa
Na escuridão de uma tapera

Quanta coisa se passou
Quanta coisa aprendi
Algumas até esqueci
Por não fazer uso constante
E agora, neste instante
Remoendo minha história
Das derrotas e das glórias
Me sinto orgulhoso de tudo
Não grito, nem fico mudo
Mas relato minhas memórias

São vinte anos de lida
Num aprendizado quase diário
Mantendo meu ideário
Fui semeando meu caminho
Mas nunca estive sozinho
Durante minha caminhada
Tive família, amigos, amada
Colegas, filho e um cusco
Que quando esqueço o que busco
Norteiam minha jornada

Ainda não terminou...
Tenho muito o que andar
Daqui pra frente, mais devagar
Pois a idade está chegando
O cansaço se acercando
Mas vou aguentar até o fim
Porque uma coisa eu tenho pra mim
Nunca desistir da luta
Direcionando a minha conduta
Mostrando ao mundo porque vim.


Leandro da Silva Melo

De volta ao meu pago

DE VOLTA AO MEU PAGO


Enchi os olhos de campo
Da macega ao capinzal
Do Azulão ao Cardeal
Vislumbrei na beira da estrada
Muitas vezes empoeirada
Pela passagem dos demais
E fui deixando para trás
Pensamentos e problemas
Incertezas e dilemas
Na terra de meus ancestrais

Não há como descrever
A sensação de “estar em casa”
A imaginação que te dá asas
Precisa do abrigo ao chão
Como no ofuscar de um clarão
Tu vais identificando as imagens
E o que são simples passagens
Vão resgatando na mente
Maravilhas que são simplesmente
Nossas mais lindas paisagens

Viajar é terapia
Minha terra é minha recarga
E até quando a vida amarga
É do nosso chão que nos lembramos
Das alegrias que lá passamos
Como quem busca uma salvação
E é quando volto ao meu torrão
Pra recarregar minhas baterias
Que prevejo mais belos dias
Enquanto cevo meu chimarrão

Alguns amigos me dizem
_ Tua visita nos traz alegrias
E é recordando as nostalgias
Que passamos o tempo a contar
Histórias do nosso passar
Peripécias de homem-guri
Coisas que pra mim e pra ti
Tem muita importância
Pois são o que tem relevância
Na minha história, até aqui.


Leandro da Silva Melo