sábado, 11 de maio de 2013

Outono

OUTONO

Nasce uma manhã gelada
O sol brilhando ao fundo
Vai aquecer meu mundo
Enquanto grita o Quero-quero
O outono chegou e eu espero
Dias bonitos de sol e frio
E assim como as fêmeas no cio
Se preparam pro acasalamento
Nos preparamos, neste momento
Pra um clima que muda, arredio

A madrugada se arrasta
Em direção ao nascente
Com um frio que se faz crescente
Até o sol despertar
Depois começa a amenizar
Mas ainda dura um bom tempo
Enquanto o calor e o vento
Transfiguram a paisagem
Num ritual de passagem
Em que o mundo gira mais lento

Parece que as horas não passam
Numa manhã de cerração
É como se a escuridão
Tapasse o campo com um manto
E deixasse um outro tanto
Esparramado pela grama
Formando por entre as ramas
E as teias de aranha
Figuras, das mais estranhas
Como complexos diagramas

No fogão, o café quente
E a água pro chimarrão
Aquecem primeiro a mão
De quem manuseia as vasilhas
O vapor, fazendo trilhas
Aquece toda a cozinha
E o vivente, sem ladainha
Vai sorvendo o mate e o café
Enquanto aprecia, em pé
A névoa que aos poucos definha

Só quem pisou na geada
Conhece o cheiro do frio
É uma mistura de arrepio
Com um queimor na ponta da fuça
E por mais que o índio tussa
É o ar puro que inala
E em nada ali se iguala
Ao respirar um pouco mais fundo
Sente o aroma do mundo
Enquanto o peito se cala

Olhando assim para a grama
Mesclada num branco marfim
É como que revelasse pra mim
A essência de nossa raça
Mistura de cerração e fumaça
Preenchendo no tempo a lacuna
De uma era sem maneia e reiuna
Que nos deixou de legado e herança
Manter sempre viva a esperança
Mesmo com a melena lubuna.


Leandro da Silva Melo

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